CARTA
APOSTÓLICA O Rosário da Virgem Maria do
papa JOÃO PAULO II
SOBRE
O ROSÁRIO
INTRODUÇÃO
1.
O Rosário da Virgem Maria (Rosarium Virginis Mariae), que ao sopro do Espírito
de Deus se foi formando gradualmente no segundo Milênio, é oração amada por
numerosos Santos e estimulada pelo Magistério. Na sua simplicidade e
profundidade, permanece, mesmo no terceiro Milênio recém iniciado, uma oração
de grande significado e destinada a produzir frutos de santidade. Ela enquadra-se
perfeitamente no caminho espiritual de um cristianismo que, passados dois mil
anos, nada perdeu do seu frescor original, e sente-se impulsionado pelo
Espírito de Deus a « fazer-se ao largo » (duc in altum!) para reafirmar, melhor
« gritar » Cristo ao mundo como Senhor e Salvador, como « caminho, verdade e
vida » (Jo 14, 6), como « o fim da história humana, o ponto para onde tendem os
desejos da história e da civilização ».(1)
O
Rosário, de fato, ainda que caraterizado pela sua fisionomia mariana, no seu
âmago é oração cristológica. Na sobriedade dos seus elementos, concentra a
profundidade de toda a mensagem evangélica,da qual é quase um compêndio.(2)
Nele ecoa a oração de Maria, o seu perene Magnificat pela obra da Encarnação
redentora iniciada no seu ventre virginal. Com ele, o povo cristão frequenta a
escola de Maria, para deixar-se introduzir na contemplação da beleza do rosto
de Cristo e na experiência da profundidade do seu amor. Mediante o Rosário, o
crente alcança a graça em abundância, como se a recebesse das mesmas mãos da
Mãe do Redentor.
Os Romanos Pontífices e o Rosário
2.
Muitos dos meus Predecessores atribuíram grande importância a esta oração.
Merecimento particular teve, a propósito, Leão XIII que, no dia 1 de Setembro
de 1883, promulgava a Encíclica Supremi apostolatus officio,(3)alto
pronunciamento com o qual inaugurava numerosas outras declarações sobre esta
oração, indicando-a como instrumento espiritual eficaz contra os males da
sociedade. Entre os Papas mais recentes, já na época conciliar, que se
distinguiram na promoção do Rosário, desejo recordar o Beato João XXIII(4)e
sobretudo Paulo VI que, na Exortação apostólica Marialis cultus, destacou, em
harmonia com a inspiração do Concílio Vaticano II, o caráter evangélico do Rosário
e a sua orientação cristológica.
Eu
mesmo não descurei ocasião para exortar à frequente recitação do Rosário. Desde
a minha juventude, esta oração teve um lugar importante na minha vida
espiritual. Trouxe-me à memória a minha recente viagem à Polônia, sobretudo a
visita ao Santuário de Kalwaria. O Rosário acompanhou-me nos momentos de
alegria e nas provações. A ele confiei tantas preocupações; nele encontrei
sempre conforto. Vinte e quatro anos atrás, no dia 29 de Outubro de 1978,
apenas duas semanas depois da minha eleição para a Sé de Pedro, quase numa
confidência, assim me exprimia: « O Rosário é a minha oração predileta. Oração
maravilhosa! Maravilhosa na simplicidade e na profundidade. [...] Pode dizer-se
que o Rosário é, em certo modo, um comentário-prece do último capítulo da
Constituição Lumen gentium do Vaticano II, capítulo que trata da admirável
presença da Mãe de Deus no mistério de Cristo e da Igreja. De fato, sobre o
fundo das palavras da “Ave Maria” passam diante dos olhos da alma os principais
episódios da vida de Jesus Cristo. Eles dispõem-se no conjunto dos mistérios
gozosos, dolorosos e gloriosos, e põem-nos em comunhão viva com Jesus –
poderíamos dizer– através do Coração de Sua Mãe. Ao mesmo tempo o nosso coração
pode incluir nestas dezenas do Rosário todos os fatos que formam a vida do
indivíduo, da família, da nação, da Igreja e da humanidade. Acontecimentos
pessoais e do próximo, e de modo particular daqueles que nos são mais
familiares e que mais estimamos. Assim a simples oração do Rosário marca o
ritmo da vida humana ».(5)
Com
estas palavras, meus caros Irmãos e Irmãs, inseria no ritmo quotidiano do
Rosário o meu primeiro ano de Pontificado. Hoje, no início do vigésimo quinto
ano de serviço como Sucessor de Pedro, desejo fazer o mesmo. Quantas graças
recebi nestes anos da Virgem Santa através do Rosário: Magnificat anima mea
Dominum! Desejo elevar ao Senhor o meu agradecimento com as palavras da sua Mãe
Santíssima, sob cuja proteção coloquei o meu ministério petrino: Totus tuus!
Outubro 2002 - Outubro 2003: Ano do
Rosário
3.
Por isso, na esteira da reflexão oferecida na Carta apostólica Novo millennio
ineunte na qual convidei o Povo de Deus, após a experiência jubilar, a « partir
de Cristo »,(6)senti a necessidade de desenvolver uma reflexão sobre o Rosário,
uma espécie de coroação mariana da referida Carta apostólica, para exortar à
contemplação do rosto de Cristo na companhia e na escola de sua Mãe Santíssima.
Com efeito, recitar o Rosário nada mais é senão contemplar com Maria o rosto de
Cristo. Para dar maior relevo a este convite, e tomando como ocasião a próxima
efeméride dos cento e vinte anos da mencionada Encíclica de Leão XIII, desejo
que esta oração seja especialmente proposta e valorizada nas várias comunidades
cristãs durante o ano. Proclamo, portanto, o período que vai de Outubro deste
ano até Outubro de 2003 Ano do Rosário.
Deixo
esta indicação pastoral à iniciativa das diversas comunidades eclesiais. Com
ela não pretendo dificultar, mas antes integrar e consolidar os planos pastorais
das Igrejas particulares. Espero que ela seja acolhida com generosidade e
solicitude. O Rosário, quando descoberto no seu pleno significado, conduz ao
âmago da vida cristã, oferecendo uma ordinária e fecunda oportunidade
espiritual e pedagógica para a contemplação pessoal, a formação do Povo de Deus
e a nova evangelização. Apraz-me reafirmá-lo, também, na recordação feliz de
outro aniversário: os 40 anos do início do Concílio Ecumênico Vaticano II (11
de Outubro de 1962), a « grande graça » predisposta pelo Espírito de Deus para
a Igreja do nosso tempo.(7)
Objeções
ao Rosário
Pode
haver também quem tema que o Rosário possa revelar-se pouco ecumênico pelo seu
caráter marcadamente mariano. Na verdade, situa-se no mais claro horizonte de
um culto à Mãe de Deus tal como o Concílio delineou: um culto orientado ao
centro cristológico da fé cristã, de forma que, « honrando a Mãe, melhor se
conheça, ame e glorifique o Filho ».(8)Se adequadamente compreendido, o Rosário
é certamente uma ajuda, não um obstáculo, para o ecumenismo!
Caminho
de contemplação
5.
Porém, o motivo mais importante para propor com insistência a prática do
Rosário reside no fato de este constituir um meio validíssimo para favorecer
entre os crentes aquele compromisso de contemplação do mistério cristão que
propus, na Carta apostólica Novo millennio ineunte, como verdadeira e própria
pedagogia da santidade: « Há necessidade dum cristianismo que se destaque
principalmente pela arte da oração ».(9)Enquanto que na cultura contemporânea,
mesmo entre tantas contradições, emerge uma nova exigência de espiritualidade,
solicitada inclusive pela influência de outras religiões, é extremamente
urgente que as nossas comunidades cristãs se tornem « autênticas escolas de
oração ».(10)
O
Rosário situa-se na melhor e mais garantida tradição da contemplação cristã.
Desenvolvido no Ocidente, é oração tipicamente meditativa e corresponde, de
certo modo, à « oração do coração » ou « oração de Jesus » germinada no húmus
do Oriente cristão.
Oração
pela paz e pela família
Análoga
urgência de empenho e de oração surge de outra realidade crítica da nossa
época, a da família, célula da sociedade, cada vez mais ameaçada por forças
desagregadoras a nível ideológico e prático, que fazem temer pelo futuro desta
instituição fundamental e imprescindível e, consequentemente, pela sorte da
sociedade inteira. O relançamento do Rosário nas famílias cristãs, no âmbito de
uma pastoral mais ampla da família, propõe-se como ajuda eficaz para conter os
efeitos devastantes desta crise da nossa época.
«
Eis a tua mãe! » (Jo 19, 27)
7.
Numerosos sinais demonstram quanto a Virgem Maria queira, também hoje,
precisamente através desta oração, exercer aquele cuidado maternal ao qual o
Redentor prestes a morrer confiou, na pessoa do discípulo predileto, todos os
filhos da Igreja: « Mulher, eis aí o teu filho » (Jo19, 26). São conhecidas, ao
longo dos séculos XIX e XX, várias ocasiões, nas quais a Mãe de Cristo fez, de
algum modo, sentir a sua presença e a sua voz para exortar o Povo de Deus a
esta forma de oração contemplativa. Em particular desejo lembrar, pela incisiva
influência que conservam na vida dos cristãos e pelo reconhecimento recebido da
Igreja, as aparições de Lourdes e de Fátima,(11)cujos respectivos Santuários
são meta de numerosos peregrinos, em busca de conforto e de esperança.
Na
senda das Testemunhas
8.
Seria impossível citar a multidão sem conta de Santos que encontraram no
Rosário um autêntico caminho de santificação. Bastará recordar S. Luís Maria
Grignion de Montfort, autor de uma preciosa obra sobre o Rosário(12); e, em
nossos dias, Padre Pio de Pietrelcina, que recentemente tive a alegria de
canonizar. Além disso um carisma especial, como verdadeiro apóstolo do Rosário,
teve o Beato Bártolo Longo. O seu caminho de santidade assenta numa inspiração
ouvida no fundo do coração: « Quem difunde o Rosário, salva-se! ».(13)Baseado
nisto, ele sentiu-se chamado a construir em Pompeia um templo dedicado à Virgem
do Santo Rosário no cenário dos restos da antiga cidade, ainda pouco tocada
pelo anúncio cristão quando foi sepultada em 79 pela erupção do Vesúvio e
surgida das suas cinzas séculos depois como Testemunho das luzes e sombras da
civilização clássica.
Com
toda a sua obra e, de modo particular, através dos « Quinze Sábados », Bártolo
Longo desenvolveu a alma cristológica e contemplativa do Rosário, encontrando
particular estímulo e apoio em Leão XIII, o “Papa do Rosário”.
CAPÍTULO
I
CONTEMPLAR
CRISTO
COM
MARIA
Um
rosto resplandecente como o sol
9.
« Transfigurou-Se diante deles: o seu rosto resplandeceu como o sol » (Mt 17,
2). A cena evangélica da transfiguração de Cristo, na qual os três apóstolos
Pedro, Tiago e João aparecem como que extasiados pela beleza do Redentor, pode
ser tomada como ícone da contemplação cristã. Fixar os olhos no rosto de
Cristo, reconhecer o seu mistério no caminho ordinário e doloroso da sua
humanidade, até perceber o brilho divino definitivamente manifestado no
Ressuscitado glorificado à direita do Pai, é a tarefa de cada discípulo de
Cristo; é por conseguinte também a nossa tarefa. Contemplando este rosto,
dispomo-nos a acolher o mistério da vida trinitária, para experimentar sempre
de novo o amor do Pai e gozar da alegria do Espírito Santo. Realiza-se assim
também para nós a palavra de S. Paulo: « Refletindo a glória do Senhor, como um
espelho, somos transformados de glória em glória, nessa mesma imagem, sempre
mais resplandecente, pela ação do Espírito do Senhor » (2Cor 3, 18).
Maria,
modelo de contemplação
Desde
então o seu olhar, cheio sempre de reverente estupor, não se separará mais
d'Ele. Algumas vezes será um olhar interrogativo, como no episódio da perda no
templo: « Filho, porque nos fizeste isto? » (Lc 2, 48); em todo o caso será um
olhar penetrante, capaz de ler no íntimo de Jesus, a ponto de perceber os seus
sentimentos escondidos e adivinhar suas decisões, como em Caná (cf. Jo 2, 5);
outras vezes, será um olhar doloroso, sobretudo aos pés da cruz, onde haverá
ainda, de certa forma, o olhar da parturiente, pois Maria não se limitará a
compartilhar a paixão e a morte do Unigênito, mas acolherá o novo filho a Ela
entregue na pessoa do discípulo predileto (cf. Jo 19, 26-27); na manhã da
Páscoa, será um olhar radioso pela alegria da ressurreição e, enfim, um olhar
ardoroso pela efusão do Espírito no dia de Pentecostes (cf. At 1,14).
As
recordações de Maria
11.
Maria vive com os olhos fixos em Cristo e guarda cada palavra sua: « Conservava
todas estas coisas, ponderando-as no seu coração » (Lc 2, 19; cf. 2, 51). As
recordações de Jesus, estampadas na sua alma, acompanharam-na em cada
circunstância, levando-a a percorrer novamente com o pensamento os vários
momentos da sua vida junto com o Filho. Foram estas recordações que constituíram,
de certo modo, o “rosário” que Ela mesma recitou constantemente nos dias da sua
vida terrena.
E
mesmo agora, entre os cânticos de alegria da Jerusalém celestial, os motivos da
sua gratidão e do seu louvor permanecem imutáveis. São eles que inspiram o seu
carinho materno pela Igreja peregrina, na qual Ela continua a desenvolver a
composição da sua “narração” de evangelizadora. Maria propõe continuamente aos
crentes os “mistérios” do seu Filho, desejando que sejam contemplados, para que
possam irradiar toda a sua força salvífica. Quando recita o Rosário, a
comunidade cristã sintoniza-se com a lembrança e com o olhar de Maria.
Rosário,
oração contemplativa
12.
O Rosário, precisamente a partir da experiência de Maria, é uma oração
marcadamente contemplativa. Privado desta dimensão, perderia sentido, como
sublinhava Paulo VI: « Sem contemplação, o Rosário é um corpo sem alma e a sua
recitação corre o perigo de tornar-se uma repetição mecânica de fórmulas e de
vir a achar-se em contradição com a advertência de Jesus: “Na oração não sejais
palavrosos como os gentios, que imaginam que hão de ser ouvidos graças à sua
verbosidade” (Mt 6, 7). Por sua natureza, a recitação do Rosário requer um
ritmo tranquilo e uma certa demora a pensar, que favoreçam, naquele que ora, a
meditação dos mistérios da vida do Senhor, vistos através do Coração d'Aquela
que mais de perto esteve em contacto com o mesmo Senhor, e que abram o acesso
às suas insondáveis riquezas ».(14)
Precisamos
de deter-nos neste profundo pensamento de Paulo VI, para dele extrair algumas
dimensões do Rosário que definem melhor o seu caráter próprio de contemplação
cristológica.
Recordar
Cristo com Maria
13.
O contemplar de Maria é, antes de mais, um recordar. Convém, no entanto,
entender esta palavra no sentido bíblico da memória (zakar), que atualiza as
obras realizadas por Deus na história da salvação. A Bíblia é narração de
acontecimentos salvíficos, que culminam no mesmo Cristo. Estes acontecimentos
não constituem somente um “ontem”; são também o “hoje” da salvação.
Esta
atualização realiza-se particularmente na Liturgia: o que Deus realizou séculos
atrás não tinha a ver só com as Testemunhas diretas dos acontecimentos, mas
alcança, pelo seu dom de graça, o homem de todos os tempos. Isto vale, de certo
modo, também para qualquer outra piedosa ligação com aqueles acontecimentos: «
fazer memória deles », em atitude de fé e de amor, significa abrir-se à graça
que Cristo nos obteve com os seus mistérios de vida, morte e ressurreição.
Por
isso, enquanto se reafirma, com o Concílio Vaticano II, que a Liturgia, como
exercício do ofício sacerdotal de Cristo e culto público, é « a meta para a
qual se encaminha a ação da Igreja e a fonte de onde promana toda a sua força
»,(15)convém ainda lembrar que « a participação na sagrada Liturgia não esgota
a vida espiritual. O cristão, chamado a rezar em comum, deve também entrar no
seu quarto para rezar a sós ao Pai (cf. Mt 6, 6); mais, segundo ensina o
Apóstolo, deve rezar sem cessar (cf. 1 Ts 5, 17) ».(16)O Rosário, com a sua
especificidade, situa-se neste cenário diversificado da oração « incessante »,
e se a Liturgia, ação de Cristo e da Igreja, é ação salvífica por excelência, o
Rosário, enquanto meditação sobre Cristo com Maria, é contemplação salutar. De
fato, a inserção, de mistério em mistério, na vida do Redentor faz com que tudo
aquilo que Ele realizou e a Liturgia atualiza, seja profundamente assimilado e
modele a existência.
Aprender
Cristo de Maria
14.
Cristo é o Mestre por excelência, o revelador e a revelação. Não se trata
somente de aprender as coisas que Ele ensinou, mas de “aprender a Ele”. Porém,
nisto, qual mestra mais experimentada do que Maria? Se do lado de Deus é o
Espírito, o Mestre interior, que nos conduz à verdade plena de Cristo (cf. Jo
14, 26; 15, 26;16, 13), de entre os seres humanos, ninguém melhor do que Ela
conhece Cristo, ninguém como a Mãe pode introduzir-nos no profundo conhecimento
do seu mistério.
O
primeiro dos “sinais” realizado por Jesus –a transformação da água em vinho nas
bodas de Caná – mostra-nos precisamente Maria no papel de mestra, quando exorta
os servos a cumprirem as disposições de Cristo (cf. Jo 2, 5). E podemos
imaginar que Ela tenha desempenhado a mesma função com os discípulos depois da
Ascensão de Jesus, quando ficou com eles à espera do Espírito Santo e os animou
na primeira missão. Percorrer com Ela as cenas do Rosário é como frequentar a
“escola” de Maria para ler Cristo, penetrar nos seus segredos, compreender a
sua mensagem.
Uma
escola, a de Maria, ainda mais eficaz, quando se pensa que Ela a dá obtendo-nos
os dons do Espírito Santo com abundância e, ao mesmo tempo, propondo-nos o
exemplo daquela « peregrinação da fé »,(17)na qual é mestra inigualável. Diante
de cada mistério do Filho, Ela convida-nos, como na sua Anunciação, a colocar
humildemente as perguntas que abrem à luz, para concluir sempre com a
obediência da fé: « Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra
» (Lc 1, 38).
Configurar-se
a Cristo com Maria
No
itinerário espiritual do Rosário, fundado na incessante contemplação – em
companhia de Maria – do rosto de Cristo, este ideal exigente de configuração
com Ele alcança-se através do trato, podemos dizer, “amistoso”. Este
introduz-nos de modo natural na vida de Cristo e como que faz-nos “respirar” os
seus sentimentos. A este respeito diz o Beato Bártolo Longo: « Tal como dois
amigos, que se encontram constantemente, costumam configurar-se até mesmo nos
hábitos, assim também nós, conversando familiarmente com Jesus e a Virgem, ao
meditar os mistérios do Rosário, vivendo unidos uma mesma vida pela Comunhão,
podemos vir a ser, por quanto possível à nossa pequenez, semelhantes a Eles, e
aprender destes supremos modelos a vida humilde, pobre, escondida, paciente e
perfeita ».(18)
Neste
processo de configuração a Cristo no Rosário, confiamo-nos, de modo particular,
à ação maternal da Virgem Santa. Aquela que é Mãe de Cristo, pertence Ela mesma
à Igreja como seu « membro eminente e inteiramente singular »(19)sendo, ao
mesmo tempo, a “Mãe da Igreja”. Como tal, “gera” continuamente filhos para o
Corpo místico do Filho. Fá-lo mediante a intercessão, implorando para eles a
efusão inesgotável do Espírito. Ela é o perfeito ícone da maternidade da
Igreja.
O
Rosário transporta-nos misticamente para junto de Maria dedicada a acompanhar o
crescimento humano de Cristo na casa de Nazaré. Isto permite-lhe educar-nos e
plasmar-nos, com a mesma solicitude, até que Cristo esteja formado em nós plenamente
(cf. Gl 4, 19). Esta ação de Maria,totalmente fundada sobre a de Cristo e a
esta radicalmente subordinada, « não impede minimamente a união imediata dos crentes com Cristo, antes a facilita ».(20)É o princípio luminoso expresso pelo
Concílio Vaticano II, que provei com tanta força na minha vida, colocando-o na
base do meu lema episcopal: Totus tuus.(21)Um lema, como é sabido, inspirado na
doutrina de S.Luís Maria Grignion de Montfort, que assim explica o papel de
Maria no processo de configuração a Cristo de cada um de nós: “Toda a nossa
perfeição consiste em sermos configurados, unidos e consagrados a Jesus Cristo.
Portanto, a mais perfeita de todas as devoções é incontestavelmente aquela que
nos configura, une e consagra mais perfeitamente a Jesus Cristo. Ora, sendo
Maria entre todas as criaturas a mais configurada a Jesus Cristo, daí se
conclui que de todas as devoções, a que melhor consagra e configura uma alma a
Nosso Senhor é a devoção a Maria, sua santa Mãe; e quanto mais uma alma for
consagrada a Maria, tanto mais será a Jesus Cristo”.(22)Nunca como no Rosário o
caminho de Cristo e o de Maria aparecem unidos tão profundamente. Maria só vive
em Cristo e em função de Cristo!
Suplicar
a Cristo com Maria
16.
Cristo convidou a dirigirmo-nos a Deus com insistência e confiança para ser
escutados:« Pedi e dar-se-vos-á; procurai e encontrareis; batei e
abrir-se-vos-á » (Mt 7, 7). O fundamento desta eficácia da oração é a bondade
do Pai, mas também a mediação junto d'Ele por parte do mesmo Cristo (cf. 1 Jo
2, 1) e a ação do Espírito Santo, que « intercede por nós » conforme os
desígnios de Deus (cf. Rm 8, 26-27). De fato, nós « não sabemos o que devemos
pedir em nossas orações » (Rm 8, 26) e, às vezes, não somos atendidos « porque
pedimos mal » (Tg 4, 3).
Em
apoio da oração que Cristo e o Espírito fazem brotar no nosso coração, intervém
Maria com a sua materna intercessão. “A oração da Igreja é como que sustentada
pela oração de Maria”.(23)De fato, se Jesus, único Mediador, é o Caminho da
nossa oração, Maria, pura transparência d'Ele, mostra o Caminho, e “é a partir
desta singular cooperação de Maria com a ação do Espírito Santo que as Igrejas
cultivaram a oração à santa Mãe de Deus, centrando-a na pessoa de Cristo
manifestada nos seus mistérios”.(24)Nas bodas de Caná, o Evangelho mostra
precisamente a eficácia da intercessão de Maria, que se faz porta-voz junto de
Jesus das necessidades humanas: « Não têm vinho » (Jo 2,3).
O
Rosário é ao mesmo tempo meditação e súplica. A imploração insistente da Mãe de
Deus apoia-se na confiança de que a sua materna intercessão tudo pode no
coração do Filho. Ela é “onipotente por graça”, como, com expressão audaz a ser
bem entendida, dizia o Beato Bártolo Longo na sua Súplica à Virgem.(25)Uma
certeza esta que, a partir do Evangelho, foi-se consolidando através da
experiência do povo cristão. O grande poeta Dante, na linha de S. Bernardo,
interpreta-a estupendamente, quando canta: “Donna, se' tanto grande e tanto
vali, / che qual vuol grazia e a te não ricorre, / sua disianza vuol volar
sanz'ali”.(26)No Rosário, Maria, santuário do Espírito Santo (cf. Lc1, 35), ao
ser suplicada por nós, apresenta-se em nosso favor diante do Pai que a cumulou
de graça e do Filho nascido das suas entranhas, pedindo conosco e por nós.
Anunciar
Cristo com Maria
17.
O Rosário é também um itinerário de anúncio e aprofundamento, no qual o
mistério de Cristo é continuamente oferecido aos diversos níveis da experiência
cristã. O módulo é o de uma apresentação orante e contemplativa, que visa
plasmar o discípulo segundo o coração de Cristo. De fato, se na recitação do
Rosário todos os elementos para uma meditação eficaz forem devidamente
valorizados, torna-se, especialmente na celebração comunitária nas paróquias e
nos santuários, uma significativa oportunidade catequética que os Pastores
devem saber aproveitar. A Virgem do Rosário continua também deste modo a sua
obra de anúncio de Cristo. A história do Rosário mostra como esta oração foi
utilizada especialmente pelos Dominicanos, num momento difícil para a Igreja
por causa da difusão da heresia. Hoje encontramo-nos diante de novos desafios.
Porque não retomar na mão o Terço com a fé dos que nos precederam? O Rosário
conserva toda a sua força e permanece um recurso não descurável na bagagem
pastoral de todo o bom evangelizador.
CAPÍTULO
II
MISTÉRIOS
DE CRISTO
MISTÉRIOS
DA MÃE
O
Rosário, “compêndio do Evangelho”
18.
À contemplação do rosto de Cristo só podemos introduzir-nos escutando, no
Espírito, a voz do Pai, porque « ninguém conhece o Filho senão o Pai » (Mt 11,
27). Nas proximidades de Cesareia de Filipe, perante a confissão de Pedro,
Jesus especificará a fonte de uma tão clara intuição da sua identidade: « Não
foram a carne nem o sangue quem to revelou, mas o meu Pai que está nos céus »
(Mt 16, 17). É, pois, necessária a revelação do alto. Mas, para acolhê-la, é
indispensável colocar-se à escuta: “Só a experiência do silêncio e da oração
oferece o ambiente adequado para maturar e desenvolver-se um conhecimento mais
verdadeiro, aderente e coerente daquele mistério”.(27)
O
Rosário é um dos percursos tradicionais da oração cristã aplicada à
contemplação do rosto de Cristo. Paulo VI assim o descreveu: « Oração
evangélica, centrada sobre o mistério da Encarnação redentora, o Rosário é, por
isso mesmo,uma prece de orientação profundamente cristológica. Na verdade, o
seu elemento mais caraterístico – a repetição litânica do “Alegra-te, Maria”–
torna-se também ele louvor incessante a Cristo, objetivo último do anúncio do
Anjo e da saudação da mãe do Batista: “Bendito o fruto do teu ventre” (Lc 1,
42). Diremos mais ainda: a repetição da Ave Maria constitui a urdidura sobre a
qual se desenrola a contemplação dos mistérios; aquele Jesus que cada Ave Maria
relembra é o mesmo que a sucessão dos mistérios propõe, uma e outra vez, como
Filho de Deus e da Virgem Santíssima ».(28)
Uma inserção oportuna
19.
De tantos mistérios da vida de Cristo, o Rosário, tal como se consolidou na
prática mais comum confirmada pela autoridade eclesial, aponta só alguns. Tal
seleção foi ditada pela estruturação originária desta oração, que adotou o
número 150 como o dos Salmos.
Considero,
no entanto, que, para reforçar o espessor cristológico do Rosário, seja
oportuna uma inserção que, embora deixada à livre valorização de cada pessoa e
das comunidades, lhes permita abraçar também os mistérios da vida pública de
Cristo entre o Batismo e a Paixão. Com efeito, é no âmbito destes mistérios que
contemplamos aspectos importantes da pessoa de Cristo, como revelador definitivo
de Deus. É Ele que, declarado Filho dileto do Pai no Batismo do Jordão, anuncia
a vinda do Reino, testemunha com as obras e proclama as suas exigências. É nos
anos da vida pública que o mistério de Cristo se mostra de forma especial como
mistério de luz: « Enquanto estou no mundo, sou a Luz do mundo » (Jo 9, 5).
Para
que o Rosário possa considerar-se mais plenamente “compêndio do Evangelho”, é
conveniente que, depois de recordar a encarnação e a vida oculta de Cristo
(mistérios da alegria), e antes de se deter nos sofrimentos da paixão (mistérios
da dor), e no triunfo da ressurreição (mistérios da glória), a meditação se
concentre também sobre alguns momentos particularmente significativos da vida
pública (mistérios da luz). Esta inserção de novos mistérios, sem prejudicar
nenhum aspecto essencial do esquema tradicional desta oração, visa fazê-la
viver com renovado interesse na espiritualidade cristã, como verdadeira
introdução na profundidade do Coração de Cristo, abismo de alegria e de luz, de
dor e de glória.
Mistérios da alegria
20.
O primeiro ciclo, o dos “mistérios gozosos”, carateriza-se de facto pela
alegria que irradia do acontecimento da Encarnação. Isto é evidente desde a
Anunciação, quando a saudação de Gabriel à Virgem de Nazaré se liga ao convite
da alegria messiânica: « Alegra-te, Maria ». Para este anúncio se encaminha a
história da salvação, e até, de certo modo, a história do mundo. De facto, se o
desígnio do Pai é recapitular em Cristo todas as coisas (cf. Ef 1, 10), então
todo o universo de algum modo é alcançado pelo favor divino, com o qual o Pai
Se inclina sobre Maria para torná-La Mãe do seu Filho. Por sua vez, toda a humanidade
está como que incluída no fiat com que Ela corresponde prontamente à vontade de
Deus.
Sob
o signo da exultação, aparece depois a cena do encontro com Isabel, onde a
mesma voz de Maria e a presença de Cristo no seu ventre fazem « saltar de
alegria » João (cf. Lc 1, 44). Inundada de alegria é a cena de Belém, onde o
nascimento do Deus-Menino, o Salvador do mundo, é cantado pelos anjos e
anunciado aos pastores precisamente como « uma grande alegria » (Lc 2, 10).
Os
dois últimos mistérios, porém, mesmo conservando o sabor da alegria antecipam
já os sinais do drama. A apresentação no templo, de fato, enquanto exprime a
alegria da consagração e extasia o velho Simeão, regista também a profecia do «
sinal de contradição » que o Menino será para Israel e da espada que
trespassará a alma da Mãe (cf. Lc 2, 34-35). Gozoso e ao mesmo tempo dramático
é também o episódio de Jesus, aos doze anos, no templo. Vemos aqui na sua
divina sabedoria, enquanto escuta e interroga, e substancialmente no papel
d'Aquele que “ensina”. A revelação do seu mistério de Filho totalmente dedicado
às coisas do Pai é anúncio daquela radicalidade evangélica que põe inclusive em
crise os laços mais caros do homem, diante das exigências absolutas do Reino.
Até José e Maria, aflitos e angustiados, « não entenderam » as suas palavras
(Lc 2, 50).
Por
isso, meditar os mistérios gozosos significa entrar nas motivações últimas e no
significado profundo da alegria cristã. Significa fixar o olhar sobre a
realidade concreta do mistério da Encarnação e sobre o obscuro prenúncio do
mistério do sofrimento salvífico. Maria leva-nos a aprender o segredo da
alegria cristã, lembrando-nos que o cristianismo é, antes de mais, euangelion,
“boa nova”, que tem o seu centro, antes, o seu mesmo conteúdo, na pessoa de
Cristo, o Verbo feito carne, único Salvador do mundo.
Mistérios da luz
21.
Passando da infância e da vida de Nazaré à vida pública de Jesus, a
contemplação leva-nos aos mistérios que se podem chamar, por especial título,
“mistérios da luz”. Na verdade, todo o mistério de Cristo é luz. Ele é a « luz
do mundo » (Jo 8, 12). Mas esta dimensão emerge particularmente nos anos da vida
pública, quando Ele anuncia o evangelho do Reino. Querendo indicar à comunidade
cristã cinco momentos significativos – mistérios luminosos – desta fase da vida
de Cristo, considero que se podem justamente individuar: 1º no seu Batismo no Jordão, 2º na sua auto-revelação nas bodas de Caná, 3º no seu anúncio do Reino
de Deus com o convite à conversão, 4º na sua Transfiguração e, enfim, 5º na
instituição da Eucaristia, expressão sacramental do mistério pascal.
Cada
um destes mistérios é revelação do Reino divino já personificado no mesmo Jesus. Primeiramente é mistério de luz o Batismo no Jordão. Aqui, enquanto Cristo
desce à água do rio, como inocente que Se faz pecado por nós (cf. 2 Cor 5, 21),
o céu abre-se e a voz do Pai proclama-O Filho dileto (cf. Mt 3, 17 par), ao
mesmo tempo que o Espírito vem sobre Ele para investi-Lo na missão que O
espera. Mistério de luz é o início dos sinais em Caná (cf. Jo 2, 1-12), quando
Cristo, transformando a água em vinho, abre à fé o coração dos discípulos
graças à intervenção de Maria, a primeira entre os crentes. Mistério de luz é a
pregação com a qual Jesus anuncia o advento do Reino de Deus e convida à
conversão (cf. Mc 1, 15), perdoando os pecados de quem a Ele se dirige com
humilde confiança (cf.Mc 2, 3-13; Lc 7, 47-48), início do ministério de
misericórdia que Ele prosseguirá exercendo até ao fim do mundo, especialmente
através do sacramento da Reconciliação confiado à sua Igreja (cf. Jo 20,
22-23). Mistério de luz por excelência é a Transfiguração que, segundo a
tradição, se deu no Monte Tabor. A glória da Divindade reluz no rosto de
Cristo, enquanto o Pai O acredita aos Apóstolos extasiados para que O « escutem
» (cf. Lc 9, 35 par) e se disponham a viver com Ele o momento doloroso da
Paixão, a fim de chegarem com Ele à glória da Ressurreição e a uma vida
transfigurada pelo Espírito Santo. Mistério de luz é, enfim, a instituição da Eucaristia,
na qual Cristo Se faz alimento com o seu Corpo e o seu Sangue sob os sinais do
pão e do vinho, Testemunhando « até ao extremo » o seu amor pela humanidade (Jo
13, 1), por cuja salvação Se oferecerá em sacrifício.
Neste mistérios, à exceção de Caná, a presença de Maria fica em segundo plano. Os
Evangelhos mencionam apenas alguma presença ocasional d'Ela no tempo da
pregação de Jesus (cf.Mc 3, 31-35; Jo 2, 12) e nada dizem de uma eventual
presença no Cenáculo durante a instituição da Eucaristia. Mas, a função que
desempenha em Caná acompanha, de algum modo, todo o caminho de Cristo. A
revelação, que no Batismo do Jordão é oferecida diretamente pelo Pai e
confirmada pelo Batista, está na sua boca em Caná, e torna-se a grande advertência materna que Ela dirige à Igreja de todos os tempos: « Fazei o que
Ele vos disser » (Jo 2, 5). Advertência esta que introduz bem as palavras e os
sinais de Cristo durante a vida pública, constituindo o fundo mariano de todos
os “mistérios da luz”.
Mistérios da dor
22.
Os Evangelhos dão grande relevo aos mistérios da dor de Cristo. A piedade
cristã desde sempre, especialmente na Quaresma, através do exercício da Via
Sacra, deteve-se em cada um dos momentos da Paixão, intuindo que aqui está o
ápice da revelação do amor e a fonte da nossa salvação. O Rosário escolhe
alguns momentos da Paixão, induzindo o orante a fixar neles o olhar do coração
e a revivê-los. O itinerário meditativo abre-se com o Getsêmani, onde Cristo
vive um momento de particular angústia perante a vontade do Pai, contra a qual
a debilidade da carne seria tentada a revoltar-se. Ali Cristo põe-Se no lugar
de todas as tentações da humanidade, e diante de todos os seus pecados, para
dizer ao Pai: « Não se faça a minha vontade, mas a Tua » (Lc 22, 42 e par).
Este seu “sim” muda o “não” dos pais no Éden. E o quanto Lhe deverá custar esta
adesão à vontade do Pai, emerge dos mistérios seguintes, nos quais, com a
flagelação, a coroação de espinhos, a subida ao Calvário, a morte na cruz, Ele
é lançado no maior desprezo: Ecce homo!
Neste
desprezo, revela-se não somente o amor Deus, mas o mesmo sentido do homem. Ecce
homo: quem quiser conhecer o homem, deve saber reconhecer o seu sentido, a sua
raiz e o seu cumprimento em Cristo, Deus que Se rebaixa por amor « até à morte,
e morte de cruz » (Fil 2, 8). Os mistérios da dor levam o crente a reviver a
morte de Jesus pondo-se aos pés da cruz junto de Maria, para com Ela penetrar
no abismo do amor de Deus pelo homem e sentir toda a sua força regeneradora.
Mistérios
da glória
23.
“A contemplação do rosto de Cristo não pode deter-se na imagem do crucificado.
Ele é o Ressuscitado!”.(29)O Rosário sempre expressou esta certeza da fé,
convidando o crente a ultrapassar as trevas da Paixão, para fixar o olhar na
glória de Cristo com a Ressurreição e a Ascensão. Contemplando o Ressuscitado,
o cristão descobre novamente as razões da própria fé (cf. 1 Cor 15, 14), e
revive não só a alegria daqueles a quem Cristo Se manifestou – os Apóstolos, a
Madalena, os discípulos de Emaús –, mas também a alegria de Maria, que deverá
ter tido uma experiência não menos intensa da nova existência do Filho
glorificado. A esta glória, onde com a Ascensão Cristo Se senta à direita do
Pai, Ela mesma será elevada com a Assunção, chegando, por especialíssimo
privilégio, a antecipar o destino reservado a todos os justos com a
ressurreição da carne. Enfim, coroada de glória – como aparece no último
mistério glorioso – Ela resplandece como Rainha dos Anjos e dos Santos,
antecipação e ponto culminante da condição escatológica da Igreja.
No
centro deste itinerário de glória do Filho e da Mãe, o Rosário põe, no terceiro
mistério glorioso, o Pentecostes, que mostra o rosto da Igreja como família
reunida com Maria, fortalecida pela poderosa efusão do Espírito, pronta para a
missão evangelizadora. No âmbito da realidade da Igreja, a contemplação deste,
como dos outros mistérios gloriosos, deve levar os crentes a tomarem uma
consciência cada vez mais viva da sua nova existência em Cristo, uma existência
de que o Pentecostes constitui o grande “ícone”. Desta forma, os mistérios gloriosos alimentam nos crentes a esperança da meta escatológica, para onde
caminham como membros do Povo de Deus peregrino na história. Isto não pode
deixar de impeli-los a um corajoso Testemunho daquela « grande alegria » que dá
sentido a toda a sua vida.
Dos
“mistérios” ao “Mistério”: o caminho de Maria
24. Estes ciclos meditativos propostos no Santo Rosário não são certamente
exaustivos, mas apelam ao essencial, introduzindo o espírito no gosto de um
conhecimento de Cristo que brota continuamente da fonte límpida do texto
evangélico. Cada passagem da vida de Cristo, como é narrada pelos Evangelistas, reflete aquele Mistério que supera todo o conhecimento (cf. Ef 3, 19). É o
Mistério do Verbo feito carne, no Qual « habita corporalmente toda a plenitude
da divindade » (Cl 2, 9). Por isso, o Catecismo da Igreja Católica insiste
tanto nos mistérios de Cristo, lembrando que « tudo na vida de Jesus é sinal do
seu Mistério ».(30)O “duc in altum” da Igreja no terceiro Milênio é medido pela
capacidade dos cristãos de « conhecerem o mistério de Deus, isto é Cristo, no
Qual estão escondidos todos os Tesouros da sabedoria e da ciência » (Cl 2,
2-3). A cada batizado é dirigido este voto ardente da Carta aos Efésios: « Que
Cristo habite pela fé nos vossos corações, de sorte que, arraigados e fundados
na caridade, possais [...] compreender o amor de Cristo, que excede toda a
ciência, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus » (3, 17-19).
O
Rosário coloca-se ao serviço deste ideal, oferecendo o “segredo” para se abrir
mais facilmente a um conhecimento profundo e empenhado de Cristo. Digamos que é
o caminho de Maria. É o caminho do exemplo da Virgem de Nazaré, mulher de fé,
de silêncio e de escuta. É, ao mesmo tempo, o caminho de uma devoção mariana
animada pela certeza da relação indivisível que liga Cristo à sua Mãe
Santíssima: os mistérios de Cristo são também, de certo modo, os mistérios da
Mãe, mesmo quando não está diretamente envolvida, pelo facto de Ela viver
d'Ele e para Ele. Na Ave Maria, apropriando-nos das palavras do Arcanjo Gabriel
e de Santa Isabel, sentimo-nos levados a procurar sempre de novo em Maria, nos
seus braços e no seu coração, o « fruto bendito do seu ventre » (cf. Lc 1, 42).
Mistério
de Cristo, “mistério” do homem
25.
No citado Testemunho de 1978 sobre o Rosário como minha oração predileta,
exprimi um conceito sobre o qual desejo retornar. Dizia então que « a simples
oração do Rosário marca o ritmo da vida humana ».(31)
À
luz das reflexões desenvolvidas até agora sobre os mistérios de Cristo, não é
difícil aprofundar esta implicação antropológica do Rosário; uma implicação
mais radical do que possa parecer à primeira vista. Quem contempla a
Cristo,percorrendo as etapas da sua vida, não pode deixar de aprender d'Ele a
verdade sobre o homem. É a grande afirmação do Concílio Vaticano II que, desde
a Carta encíclica Redemptor hominis, tantas vezes fiz objecto do meu
magistério: “Na realidade, o mistério do homem só no mistério do Verbo
encarnado se esclarece verdadeiramente”.(32)O Rosário ajuda a abrir-se a esta
luz. Seguindo o caminho de Cristo, no qual o caminho do homem é « recapitulado
»,(33)manifestado e redimido, o crente põe-se diante da imagem do homem
verdadeiro. Contemplando o seu nascimento aprende a sacralidade da vida,
olhando para a casa de Nazaré aprende a verdade originária da família segundo o
desígnio de Deus, escutando o Mestre nos mistérios da vida pública recebe a luz
para entrar no Reino de Deus, e seguindo-O no caminho para o Calvário aprende o
sentido da dor salvífica. Contemplando, enfim, a Cristo e sua Mãe na glória, vê
a meta para a qual cada um de nós é chamado, se se deixa curar e transfigurar
pelo Espírito Santo. Pode-se dizer, portanto, que cada mistério do Rosário, bem
meditado, ilumina o mistério do homem.
Ao
mesmo tempo, torna-se natural levar a este encontro com a humanidade santa do
Redentor os numerosos problemas, agruras, fadigas e projetos que definem a
nossa vida. « Descarrega sobre o Senhor os teus cuidados, e Ele Sustentará »
(Sal 55, 23). Meditar com o Rosário significa entregar os nossos cuidados aos
corações misericordiosos de Cristo e da sua Mãe. À distância de vinte e cinco
anos, ao reconsiderar as provações que não faltaram nem mesmo no exercício do
ministério petrino, desejo insistir, como para convidar calorosamente a todos,
a fim de que experimentem pessoalmente isto mesmo: verdadeiramente o Rosário «
marca o ritmo da vida humana » para harmonizá-la com o ritmo da vida divina, na
gozosa comunhão da Santíssima Trindade, destino e aspiração da nossa
existência.
CAPÍTULO
III
«
PARA MIM, O VIVER É CRISTO »
O
Rosário, caminho de assimilação do mistério
Em
Cristo, Deus assumiu verdadeiramente um « coração de carne ». Não tem apenas um
coração divino, rico de misericórdia e perdão, mas também um coração humano,
capaz de todas as vibrações de afeto. Se houvesse necessidade dum Testemunho evangélico disto mesmo, não seria difícil encontrá-lo no diálogo comovente de
Cristo com Pedro depois da ressurreição: « Simão, filho de João, tu amas-Me? »
Por três vezes é feita a pergunta, e três vezes recebe como resposta: « Senhor,
Tu sabes que Te amo » (cf. Jo 21, 15-17). Além do significado específico do
texto, tão importante para a missão de Pedro, não passa despercebida a ninguém
a beleza desta tríplice repetição, na qual a solicitação insistente e a respectiva
resposta são expressas com termos bem conhecidos da experiência universal do
amor humano. Para compreender o Rosário, é preciso entrar na dinâmica
psicológica típica do amor.
Uma
coisa é clara! Se a repetição da Ave Maria se dirige diretamente a Maria, com
Ela e por Ela é para Jesus que, em última análise, vai o ato de amor. A
repetição alimenta-se do desejo duma conformação cada vez mais plena Cristo,
verdadeiro “programa” da vida cristã. S. Paulo enunciou este programa com
palavras cheias de ardor: « Para mim, o viver é Cristo e o morrer é lucro »
(Fl 1, 21). E ainda: « Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim » (Gl
2, 20). O Rosário ajuda-nos a crescer nesta conformação até à meta da
santidade.
Um
método válido...
27.
Não deve maravilhar-nos o facto de a relação com Cristo se servir também do
auxílio dum método. Deus comunica-Se ao homem, respeitando o modo de ser da
nossa natureza e os seus ritmos vitais. Por isso a espiritualidade cristã,
embora conhecendo as formas mais sublimes do silêncio místico onde todas as
imagens, palavras e gestos ficam superados pela intensidade duma inefável união
do homem com Deus, normalmente passa pelo envolvimento total da pessoa, na sua
complexa realidade psico-física e relacional.
Isto
é evidente na Liturgia. Os sacramentos e os sacramentais estão estruturados com
uma série de ritos, em que se faz apelo às diversas dimensões da pessoa. E a
mesma exigência transparece da oração não litúrgica. A confirmá-lo está o facto
de a oração mais caraterística de meditação cristológica no Oriente, que se
centra nas palavras « Jesus Cristo, Filho de Deus, Senhor, tem piedade de mim,
pecador »,(34)estar tradicionalmente ligada ao ritmo da respiração: ao mesmo
tempo que isso facilita a perseverança na invocação, assegura quase uma
densidade física ao desejo de que Cristo se torne a respiração, a alma e o
“tudo” da vida.
...que
todavia pode ser melhorado
28.
Recordei na Carta apostólica Novo millennio ineunte que há hoje, mesmo no
Ocidente, uma renovada exigência de meditação, que se vê às vezes promovida
noutras religiões com modalidades cativanTs.(35)Não faltam cristãos que, por
reduzido conhecimento da tradição contemplativa cristã, se deixam aliciar por
tais propostas. Apesar de possuírem elementos positivos e às vezes compatíveis
com a experiência cristã, todavia escondem frequentemente um fundo ideológico
inaceitável. Em tais experiências, é muito comum aparecer uma metodologia que,
tendo por objectivo uma alta concentração espiritual, recorre a técnicas repetitivas
e simbólicas de carácter psico-físico. O Rosário coloca-se neste quadro
universal da fenomenologia religiosa, mas apresenta caraterísticas próprias,
que correspondem às exigências típicas da especificidade cristã.
Na
realidade, trata-se simplesmente de um método para contemplar. E, como método
que é, há-de ser utilizado em ordem ao seu fim, e não como fim em si mesmo.
Mas, sendo fruto duma experiência secular, o próprio método não deve ser
subestimado. Abona em seu favor a experiência de inumeráveis Santos. Isto,
porém, não impede que seja melhorado. Tal é o objectivo da inserção, no ciclo
dos mistérios, da nova série dos mysteria lucis, juntamente com algumas
sugestões relativas à recitação, que proponho nesta Carta. Através delas,
embora respeitando a estrutura amplamente consolidada desta oração, queria
ajudar os fiéis a compreendê-la nos seus aspectos simbólicos, em sintonia com
as exigências da vida quotidiana. Sem isso, o Rosário corre o risco não só de
não produzir os efeitos espirituais desejados, mas até mesmo de o terço, com
que habitualmente é recitado, acabar por ser visto quase como um amuleto ou
objecto mágico, com uma adulteração radical do seu sentido e função.
A
enunciação do mistério
29.
Enunciar o mistério, com a possibilidade até de fixar contextualmente um ícone
que o represente, é como abrir um cenário sobre o qual se concentra a atenção.
As palavras orientam a imaginação e o espírito para aquele episódio ou momento
concreto da vida de Cristo. Na espiritualidade que se foi desenvolvendo na
Igreja, tanto a veneração de ícones como inúmeras devoções ricas de elementos
sensíveis e mesmo o método proposto por Santo Inácio de Loiola nos Exercícios
Espirituais recorrem ao elemento visível e figurativo (a chamada compositio
loci), considerando-o de grande ajuda para facilitar a concentração do espírito
no mistério. Aliás, é uma metodologia que corresponde à própria lógica da
Encarnação: em Jesus, Deus quis tomar feições humanas. É através da sua
realidade corpórea que somos levados a tomar contacto com o seu mistério
divino.
É
a esta exigência de concretização que dá resposta a enunciação dos vários
mistérios do Rosário. Certamente, estes não substituem o Evangelho, nem fazem
referência a todas as suas páginas. Por isso, o Rosário não substitui a lectio
divina; pelo contrário, supõe-na e promove-a. Mas, se os mistérios considerados
no Rosário, completados agora com os mysteria lucis, se limitam aos traços
fundamentais da vida de Cristo, o espírito pode facilmente a partir deles estender-se
ao resto do Evangelho, sobretudo quando o Rosário é recitado em momentos
particulares de prolongado silêncio.
A
escuta da Palavra de Deus
Assim
acolhida, ela entra na metodologia de repetição do Rosário, sem provocar o
enfado que derivaria duma simples evocação de informação já bem conhecida. Não,
não se trata de trazer à memória uma informação, mas de deixar Deus “falar”. Em
ocasiões solenes e comunitárias, esta palavra pode ser devidamente ilustrada
com um breve comentário.
O
silêncio
O
“Pai nosso”
32.
Após a escuta da Palavra e a concentração no mistério, é natural que o espírito
se eleve para o Pai. Em cada um dos seus mistérios, Jesus leva-nos sempre até
ao Pai, para Quem Ele Se volta continuamente porque repousa no seu “seio” (cf.
Jo 1,18). Quer introduzir-nos na intimidade do Pai, para dizermos com Ele: «
Abbá, Pai » (Rom 8, 5; Gal 4, 6). É em relação ao Pai que Ele nos torna irmãos
seus e entre nós, ao comunicar-nos o Espírito que é conjuntamente d'Ele e do
Pai. O “Pai nosso”, colocado quase como alicerce da meditação
cristológico-mariana que se desenrola através da repetição da Avé Maria, torna
a meditação do mistério, mesmo quando é feita a sós, uma experiência eclesial.
As
dez “Avé Marias”
33.
Este elemento é o mais encorpado do Rosário e também o que faz dele uma oração
mariana por excelência. Mas à luz da própria Avé Maria, bem entendida, nota-se
claramente que o carácter mariano não só não se opõe ao cristológico como até o
sublinha e exalta. De facto, a primeira parte da Avé Maria, tirada das palavras
dirigidas a Maria pelo Anjo Gabriel e por Santa Isabel, é contemplação
adoradora do mistério que se realiza na Virgem de Nazaré. Exprimem, por assim
dizer, a admiração do céu e da terra, e deixam de certo modo transparecer o
encanto do próprio Deus ao contemplar a sua obra-prima –a encarnação do Filho
no ventre virginal de Maria – na linha daquele olhar contente do Génesis (cf.
Gen 1, 31), daquele primordial « pathos com que Deus, na aurora da criação,
contemplou a obra das suas mãos ».(36)A repetição da Avé Maria no Rosário
sintoniza-nos com este encanto de Deus: é júbilo, admiração, reconhecimento do
maior milagre da história. É o cumprimento da profecia de Maria: « Desde agora,
todas as gerações Me hão-de chamar ditosa » (Lc 1, 48).
O
baricentro da Ave Maria, uma espécie de charneira entre a primeira parte e a
segunda, é o nome de Jesus. Às vezes, na recitação precipitada, perde-se tal
baricentro e, com ele, também a ligação ao mistério de Jesus que se está a
contemplar. Ora, é precisamente pela acentuação dada ao nome de Jesus e ao seu
mistério que se carateriza a recitação expressiva e frutuosa do Rosário. Já
Paulo VI recordou na Exortação apostólica Marialis cultus o costume, existente
nalgumas regiões, de dar realce ao nome de Cristo acrescentando-lhe uma
cláusula evocativa do mistério que se está a meditar.(37)É um louvável costume,
sobretudo na recitação pública. Exprime de forma intensa a fé cristológica,
aplicada aos diversos momentos da vida do Redentor. É profissão de fé e, ao
mesmo tempo, um auxílio para permanecer em meditação, permitindo dar vida à
função assimiladora, contida na repetição da Ave Maria, relativamente ao
mistério de Cristo. Repetir o nome de Jesus – o único nome do qual se pode
esperar a salvação (cf. At 4, 12) – enlaçado com o da Mãe Santíssima, e de
certo modo deixando que seja Ela própria a sugerir-no-lo, constitui um caminho
de assimilação que quer fazer-nos penetrar cada vez mais profundamente na vida
de Cristo.
Desta
relação muito especial de Maria com Cristo, que faz d'Ela a Mãe de Deus, a
Theotòkos, deriva a força da súplica com que nos dirigimos a Ela depois na
segunda parte da oração, confiando à sua materna intercessão a nossa vida e a
hora da nossa morte.
O
“Glória”
Na
medida em que a meditação do mistério tiver sido – de Ave Maria em Ave Maria – atenta, profunda, animada pelo amor de Cristo e por Maria, a glorificação
trinitária de cada dezena, em vez de reduzir-se a uma rápida conclusão,
adquirirá o seu justo tom contemplativo, quase elevando o espírito à altura do
Paraíso e fazendo-nos reviver de certo modo a experiência do Tabor, antecipação
da contemplação futura: « Que bom é estarmos aqui! » (Lc 9, 33).
A
jaculatória final
35.
Na prática corrente do Rosário, depois da doxologia trinitária diz-se uma
jaculatória, que varia segundo os costumes. Sem diminuir em nada o valor de
tais invocações, parece oportuno assinalar que a contemplação dos mistérios
poderá manifestar melhor toda a sua fecundidade, se se tiver o cuidado de
terminar cada um dos mistérios com uma oração para obter os frutos específicos
da meditação desse mistério. Deste modo, o Rosário poderá exprimir com maior
eficácia a sua ligação com a vida cristã. Isto mesmo no-lo sugere uma bela
oração litúrgica, que nos convida a pedir para, através da meditação dos
mistérios do Rosário, chegarmos a « imitar o que contêm e alcançar o que
prometem ».(38)
Uma
tal oração conclusiva poderá gozar, como acontece já, de uma legítima variedade
na sua inspiração. Assim, o Rosário adquirirá uma fisionomia mais adaptada às diferentes tradições espirituais e às várias comunidades cristãs. Nesta
perspectiva, é desejável que haja uma divulgação, com o devido discernimento
pastoral, das propostas mais significativas, talvez experimentadas em centros e
santuários marianos particularmente sensíveis à prática do Rosário, para que o
Povo de Deus possa valer-se de toda a verdadeira riqueza espiritual, tirando
dela alimento para a sua contemplação.
O
terço
36.
Um instrumento tradicional na recitação do Rosário é o terço. No seu uso mais
superficial, reduz-se frequentemente a um simples meio para contar e registar a
sucessão das Ave Marias. Mas, presta-se também a exprimir simbolismos, que
podem conferir maior profundidade à contemplação.
A
tal respeito, a primeira coisa a notar é como o terço converge para o
Crucificado, que desta forma abre e fecha o próprio itinerário da oração. Em
Cristo, está centrada a vida e a oração dos crentes. Tudo parte d'Ele, tudo
tende para Ele, tudo por Ele, no Espírito Santo, chega ao Pai.
Como
instrumento de contagem que assinala o avançar da oração, o terço evoca o
caminho incessante da contemplação e da perfeição cristã. O Beato Bártolo Longo
via-o também como uma “cadeia” que nos prende a Deus. Cadeia sim, mas uma doce
cadeia; assim se apresenta sempre a relação com um Deus que é Pai. Cadeia
“filial”, que nos coloca em sintonia com Maria, a « serva do Senhor » (Lc 1,
38), e em última instância com o próprio Cristo que, apesar de ser Deus, Se fez
« servo » por nosso amor (Fl 2, 7).
É
bom alargar o significado simbólico do terço também à nossa relação recíproca,
recordando através dele o vínculo de comunhão e fraternidade que a todos nos
une em Cristo.
Começo
e conclusão
37.
Segundo a praxe comum, são vários os modos de introduzir o Rosário nos
distintos contextos eclesiais. Em algumas regiões, costuma-se iniciar com a
invocação do Salmo 69/70: « Ó Deus, vinde em nosso auxílio; Senhor,
socorrei-nos e salvai-nos », para de certo modo alimentar, na pessoa orante, a
humilde certeza da sua própria indigência; ao contrário, noutros lugares
começa-se com a recitação do Creio em Deus Pai, querendo de certo modo colocar
a profissão de fé como fundamento do caminho contemplativo que se inicia. EsTs
e outros modos, na medida em que dispõem melhor à contemplação, são métodos
igualmente legítimos. A recitação termina com a oração pelas intenções do Papa,
para estender o olhar de quem reza ao amplo horizonte das necessidades
eclesiais. Foi precisamente para encorajar esta perspectiva eclesial do Rosário
que a Igreja quis enriquecê-lo com indulgências sagradas para quem o recitar
com as devidas disposições.
Assim
vivido, o Rosário torna-se verdadeiramente um caminho espiritual, onde Maria
faz de mãe, mestra e guia, e apoia o fiel com a sua poderosa intercessão. Como
admirar-se de que o espírito, no final desta oração em que teve a experiência
íntima da maternidade de Maria, sinta a necessidade de se expandir em louvores
à Virgem Santa, quer com a oração esplêndida da Salve Rainha, quer através das
invocações da Ladainha Lauretana? É o remate dum caminho interior que levou o
fiel ao contacto vivo com o mistério de Cristo e da sua Mãe Santíssima.
A
distribuição no tempo
38.
O Rosário pode ser recitado integralmente todos os dias, não faltando quem
louvavelmente o faça. Acaba assim por encher de oração as jornadas de tantos
contemplativos, ou servir de companhia a doentes e idosos que dispõem de tempo
em abundância. Mas é óbvio – e isto vale com mais forte razão ao acrescentar-se
o novo ciclo dos mysteria lucis – que muitos poderão recitar apenas uma parte,
segundo uma determinada ordem semanal. Esta distribuição pela semana acaba por
dar às sucessivas jornadas desta uma certa “cor” espiritual, de modo análogo ao
que faz a Liturgia com as várias fases do ano litúrgico.
Segundo
a prática corrente, a segunda e a quinta-feira são dedicadas aos “mistérios da
alegria”, a terça e a sexta-feira aos “mistérios da dor”, a quarta-feira, o
sábado e o domingo aos “mistérios da glória”. Onde se podem inserir os
“mistérios da luz”? Atendendo a que os mistérios gloriosos são propostos em
dois dias seguidos –sábado e domingo – e que o sábado é tradicionalmente um dia
de intenso carácter mariano, parece recomendável deslocar para ele a segunda
meditação semanal dos mistérios gozosos, nos quais está mais acentuada a
presença de Maria. E assim fica livre a quinta-feira precisamente para a
meditação dos mistérios da luz.
Esta
indicação, porém, não pretende limitar uma certa liberdade de opção na
meditação pessoal e comunitária, segundo as exigências espirituais e pastorais
e sobretudo as coincidências litúrgicas que possam sugerir oportunas
adaptações. Verdadeiramente importante é que o Rosário seja cada vez mais visto
e sentido como itinerário contemplativo. Através dele, de modo complementar ao
que se realiza na Liturgia, a semana do cristão, tendo o domingo – dia da
ressurreição – por charneira, torna-se uma caminhada através dos mistérios da
vida de Cristo, para que Ele Se afirme, na vida dos seus discípulos, como
Senhor do tempo e da história.
CONCLUSÃO
«
Rosário bendito de Maria,
doce
cadeia que nos prende a Deus »
39.
Tudo o que foi dito até agora, manifesta amplamente a riqueza desta oração
tradicional, que tem não só a simplicidade duma oração popular, mas também a
profundidade teológica duma oração adaptada a quem sente a exigência duma
contemplação mais madura.
A
Igreja reconheceu sempre uma eficácia particular ao Rosário, confiando-lhe,
mediante a sua recitação comunitária e a sua prática constante, as causas mais
difíceis. Em momentos em que estivera ameaçada a própria cristandade, foi à
força desta oração que se atribuiu a libertação do perigo, tendo a Virgem do
Rosário sido saudada como propiciadora da salvação.
À
eficácia desta oração, confio de bom grado hoje – como acenei ao princípio – a
causa da paz no mundo e a causa da família.
A
paz
40.
As dificuldades que o horizonte mundial apresenta, neste início de novo milênio, levam-nos a pensar que só uma intervenção do Alto, capaz de orientar
os corações daqueles que vivem em situações de conflito e de quantos regem os
destinos das Nações, permite esperar num futuro menos sombrio.
O
Rosário é, por natureza, uma oração orientada para a paz, precisamente porque
consiste na contemplação de Cristo, Príncipe da paz e « nossa paz » (Ef 2, 14).
Quem assimila o mistério de Cristo – e o Rosário visa isto mesmo – apreende o
segredo da paz e dele faz um projeto de vida. Além disso, devido ao seu
carácter meditativo com a serena sucessão das “Ave Marias”, exerce uma ação
pacificadora sobre quem o reza, predispondo-o a receber e experimentar no mais
fundo de si mesmo e a espalhar ao seu redor aquela paz verdadeira que é um dom
especial do Ressuscitado (cf. Jo 14, 27; 20, 21).
Depois,
o Rosário é oração de paz também pelos frutos de caridade que produz. Se for
recitado devidamente como verdadeira oração meditativa, ao facilitar o encontro
com Cristo nos mistérios não pode deixar de mostrar também o rosto de Cristo
nos irmãos, sobretudo nos que mais sofrem. Como seria possível fixar nos
mistérios gozosos o mistério do Menino nascido em Belém, sem sentir o desejo de
acolher, defender e promover a vida, preocupando-se com o sofrimento das
crianças nas diversas partes do mundo? Como se poderia seguir os passos de
Cristo revelador, nos mistérios da luz, sem se empenhar a Testemunhar as suas
“bem-aventuranças” na vida diária? E como contemplar a Cristo carregado com a
cruz ou crucificado, sem sentir a necessidade de se fazer seu “cireneu” em cada
irmão abatido pela dor ou esmagado pelo desespero? Enfim, como se poderia fixar
os olhos na glória de Cristo ressuscitado e em Maria coroada Rainha, sem
desejar tornar este mundo mais belo, mais justo, mais conforme ao desígnio de
Deus?
Em
suma o Rosário, ao mesmo tempo que nos leva a fixar os olhos em Cristo,
torna-nos também construtores da paz no mundo. Pelas suas caraterísticas de
petição insistente e comunitária, em sintonia com o convite de Cristo para «
orar sempre, sem desfalecer » (Lc 18, 1), aquele permite-nos esperar que,
também hoje, se possa vencer uma “batalha” tão difícil como é a da paz. Longe
de constituir uma fuga dos problemas do mundo, o Rosário leva-nos assim a
vê-los com olhar responsável e generoso, e alcança-nos a força de voltar para
eles com a certeza da ajuda de Deus e o firme propósito de Testemunhar em todas
as circunstâncias « a caridade, que é o vínculo da perfeição » (Cl 3, 14).
A
família: os pais...
41.
Oração pela paz, o Rosário foi desde sempre também oração da família e pela
família. Outrora, esta oração era particularmente amada pelas famílias cristãs
e favorecia certamente a sua união. É preciso não deixar perder esta preciosa
herança. Importa voltar a rezar em família e pelas famílias, servindo-se ainda
desta forma de oração.
Se,
na Carta apostólica Novo millennio ineunte, encorajei a celebração da Liturgia
da Horas pelos próprios leigos na vida ordinária das comunidades paroquiais e
dos vários grupos cristãos,(39)o mesmo desejo fazer quanto ao Rosário. Trata-se
de dois caminhos, não alternativos mas complementares, da contemplação cristã.
Peço, pois, a todos aqueles que se dedicam à pastoral das famílias para
sugerirem com convicção a recitação do Rosário.
A
família que reza unida, permanece unida.O Santo Rosário, por antiga tradição,
presta-se de modo particular a ser uma oração onde a família se encontra. Os
seus diversos membros, precisamente ao fixarem o olhar em Jesus, recuperam
também a capacidade de se olharem sempre de novo olhos nos olhos para
comunicarem, solidarizarem-se, perdoarem-se mutuamente, recomeçarem com um
pacto de amor renovado pelo Espírito de Deus.
Muitos
problemas das famílias contemporâneas, sobretudo nas sociedades economicamente
evoluídas, derivam do facto de ser cada vez mais difícil comunicar. Não
conseguem estar juntos, e os raros momentos para isso acabam infelizmente
absorvidos pelas imagens duma televisão. Retomar a recitação do Rosário em
família significa inserir na vida diária imagens bem diferentes – as do mistério
que salva: a imagem do Redentor, a imagem de sua Mãe Santíssima. A família, que
reza unida o Rosário, reproduz em certa medida o clima da casa de Nazaré: põe-se
Jesus no centro, partilham-se com Ele alegrias e sofrimentos, colocam-se nas
suas mãos necessidades e projetos, e d'Ele se recebe a esperança e a força
para o caminho.
...
e os filhos
42.
É bom e frutuoso também confiar a esta oração o itinerário de crescimento dos
filhos. Porventura não é o Rosário o itinerário da vida de Cristo, desde a sua
concepção até à morte, ressurreição e glória? Hoje torna-se cada vez mais árdua
para os pais a tarefa de seguirem os filhos pelas várias etapas da sua vida. Na
sociedade da tecnologia avançada, dos mass-media e da globalização, tudo se
tornou tão rápido; e a distância cultural entre as gerações é cada vez maior.
Os apelos mais diversos e as experiências mais imprevisíveis cedo invadem a
vida das crianças e adolescentes, e os pais sentem-se às vezes angustiados para
fazer face aos riscos que aqueles correm. Não é raro experimentarem forTs
desilusões, constatando a falência dos seus filhos perante a sedução da droga,
o fascínio dum hedonismo desenfreado, as tentações da violência, as expressões
mais variadas de falta de sentido e de desespero.
Rezar
o Rosário pelos filhos e, mais ainda, com os filhos, educando-os desde tenra
idade para este momento diário de “paragem orante” da família, não traz por
certo a solução de todos os problemas, mas é uma ajuda espiritual que não se
deve subestimar. Pode-se objectar que o Rosário parece uma oração pouco
adaptada ao gosto das crianças e jovens de hoje. Mas a objecção parte talvez da
forma muitas vezes pouco cuidada de o rezar. Ora, ressalvada a sua estrutura
fundamental, nada impede que a recitação do Rosário para crianças e jovens,
tanto em família como nos grupos, seja enriquecida com atractivos simbólicos e
práticos, que favoreçam a sua compreensão e valorização. Por que não tentar?
Uma pastoral juvenil sem descontos, apaixonada e criativa – as Jornadas
Mundiais da Juventude deram-me a sua medida! – pode, com a ajuda de Deus, fazer
coisas verdadeiramente significativas. Se o Rosário for bem apresentado, estou
seguro de que os próprios jovens serão capazes de surpreender uma vez mais os
adultos, assumindo esta oração e recitando-a com o entusiasmo típico da sua
idade.
O
Rosário, um Tesouro a descobrir
43.
Queridos irmãos e irmãs! Uma oração tão fácil e ao mesmo tempo tão rica merece
verdadeiramente ser descoberta de novo pela comunidade cristã. Façamo-lo
sobretudo neste ano, assumindo esta proposta como um reforço da linha traçada
na Carta apostólica Novo millennio ineunte, na qual se inspiraram os planos
pastorais de muitas Igrejas particulares ao programarem os seus compromissos a
curto prazo.
Dirijo-me
de modo particular a vós, amados Irmãos no Episcopado, sacerdotes e diáconos, e
a vós, agentes pastorais nos diversos ministérios, pedindo que, experimentando
pessoalmente a beleza do Rosário, vos torneis solícitos promotores do mesmo.
Também
espero em vós, teólogos, para que desenvolvendo uma reflexão simultaneamente
rigorosa e sapiencial, enraizada na Palavra de Deus e sensível à vida concreta
do povo cristão, façais descobrir os fundamentos bíblicos, as riquezas
espirituais, a validade pastoral desta oração tradicional.
Conto
convosco, consagrados e consagradas, a título especial chamados a contemplar o
rosto de Cristo na escola de Maria.
Penso
em vós todos, irmãos e irmãs de qualquer condição, em vós, famílias cristãs, em
vós, doentes e idosos, em vós, jovens: retomai confiadamente nas mãos o terço do
Rosário, fazendo a sua descoberta à luz da Escritura, de harmonia com a
Liturgia, no contexto da vida quotidiana.
Que
este meu apelo não fique ignorado! No início do vigésimo quinto ano de
Pontificado, entrego esta Carta apostólica nas mãos sapientes da Virgem Maria,
prostrando-me em espírito diante da sua imagem venerada no Santuário esplêndido
que Lhe edificou o Beato Bártolo Longo, apóstolo do Rosário. De bom grado, faço
minhas as comoventes palavras com que ele conclui a célebre Súplica à Rainha do
Santo Rosário: « Ó Rosário bendito de Maria, doce cadeia que nos prende a Deus,
vínculo de amor que nos une aos Anjos, torre de salvação contra os assaltos do
inferno, porto seguro no naufrágio geral, não te deixaremos nunca mais. Serás o
nosso conforto na hora da agonia. Seja para ti o último beijo da vida que se
apaga. E a última palavra dos nossos lábios há-de ser o vosso nome suave, ó
Rainha do Rosário de Pompeia, ó nossa Mãe querida, ó Refúgio dos pecadores, ó
Soberana consoladora dos trisTs. Sede bendita em todo o lado, hoje e sempre, na
terra e no céu ».
Vaticano,
16 de Outubro de 2002, início do vigésimo quinto ano de Pontificado.
JOÃO
PAULO II
Notas
(1)
Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium
et spes, 45.
(2)
Cf. Paulo VI, Exort. ap. Marialis cultus (2 de Fevereiro de 1974), 42: AAS 66
(1974), 153.
(3)
Cf. Acta Leonis XIII, 3 (1884), 280-289.
(4)
De modo particular, merece menção a sua Epístola apostólica sobre o Rosário « O
encontro religioso », de 29 de Setembro de 1961: AAS 53 (1961), 641-647.
(5)
Alocução do « Angelus »: L'Osservatore Romano (ed. portuguesa: 5 de Novembro de
1978), 1.
(6)
Cf. n. 29: AAS 93 (2001), 285.
(7)
João XXIII, nos anos de preparação do Concílio, não deixou de convidar a
comunidade cristã à recitação do Rosário pelo sucesso deste evento eclesial:
cf. Carta ao Cardeal Vigário de 28 de Setembro de 1960: AAS 52 (1960), 814-817.
(8)
Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 66.
(9)
N. 32: AAS 93 (2001), 288.
(10)
Ibid., 33: l. c., 289.
(11)
É sabido, e há que reafirmá-lo, que as revelações privadas não são da mesma
natureza que a revelação pública, normativa para toda a Igreja. Ao Magistério
cabe discernir e reconhecer a autenticidade e o valor das revelações privadas
para a piedade dos fiéis.
(12)
O segredo maravilhoso do Santo Rosário para converter-se e salvar-se:S. Luís
Maria Grignion de Montfort, Obras, 1, Escritos espirituais (Roma 1990), pp.
729-843.
(13)
Beato Bártolo Longo, História do Santuário de Pompeia, (Pompeia 1990), p. 59.
(14)
Exort. ap. Marialis cultus (2 de Fevereiro de 1974), 47: AAS 66 (1974), 156.
(15)
Const. sobre a Sagrada Liturgia Sacrosanctum Concilium, 10.
(16)
Ibid., 12.
(17)
Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium, 58.
(18)
Os Quinze Sábados do Santíssimo Rosário,27 (ed. Pompeia 1916), p. 27.
(19)
Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium, 53.
(20)
Ibid., 60.
(21)
Cf. Primeira Rádiomensagem Urbi et orbi (17 de Outubro de 1978): AAS 70 (1978),
927.
(22)
Tratado da verdadeira devoção a Maria, 120, em: Obras. Vol. I Escritos
espirituais (Roma 1990), p. 430.
(23)
Catecismo da Igreja Católica, 2679.
(24)
Ibid., 2675.
(25)
A Súplica à Rainha do Santo Rosário, que se recita solenemente duas vezes ao
ano, em Maio e Outubro, foi composta pelo Beato Bártolo Longo em 1883, como
adesão ao convite feito aos católicos pelo Papa Leão XIII, na sua primeira
Encíclica sobre o Rosário, de um empenho espiritual para enfrentar os males da
sociedade.
(26)
Divina Comédia,Par. XXXIII, 13-15 (« Mulher, és tão grande e tanto vales, / que
quem deseja uma graça e a vós não se dirige, é como se quisesse voar sem asas
»).
(27)
João Paulo II, Carta ap. Novo millennio ineunte (6 de Janeiro de 2001), 20: AAS
93 (2001), 279.
(28)
Exort. ap. Marialis cultus (2 de Fevereiro de 1974), 46: AAS 66 (1974), 155.
(29)
João Paulo II, Carta ap. Novo millennio ineunte (6 de Janeiro de 2001), 28: AAS
93 (2001), 284.
(30)
N. 515.
(31)
Angelus do dia 29 de Outubro de 1978: L'Osservatore Romano (ed. portuguesa: 5
de Novembro de 1978), 1.
(32)
Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et spes, 22.
(33)
Santo Ireneu de Lião, Adversus haereses, III, 18,1: PG7, 932.
(34)
Catecismo da Igreja Católica, 2616.
(35)
Cf. n. 33: AAS 93 (2001), 289.
(36)
João Paulo II, Carta aos Artistas (4 de Abril de 1999), 1: AAS 91 (1999), 1155.
(37)
Cf. n. 46: AAS 66 (1974), 155. Tal costume foi louvado ainda recentemente pela
Congregação do Culto Divino e da Disciplina dos Sacramentos, no Diretório
sobre piedade popular e liturgia. Princípios e orientações (17 de Dezembro de
2001), 201 (Cidade do Vaticano 2002), p. 165.
(38)
« ...concede, quæsumus, ut hæc mysteria sacratissimo beatæ Mariæ Virginis
Rosario recolenTs, et imitemur quod continent, et quod promittunt assequamur »:
Missale Romanum (1960) in festo B. M. Virginis a Rosario.
(39)
Cf. n. 34: AAS 93 (2001), 290.
Novembro de 1978), 1.
(32)
Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et spes, 22.
(33)
Santo Ireneu de Lião, Adversus haereses, III, 18,1: PG7, 932.
(34)
Catecismo da Igreja Católica, 2616.
(35)
Cf. n. 33: AAS 93 (2001), 289.
(36)
João Paulo II, Carta aos Artistas (4 de Abril de 1999), 1: AAS 91 (1999), 1155.
(37)
Cf. n. 46: AAS 66 (1974), 155. Tal costume foi louvado ainda recentemente pela
Congregação do Culto Divino e da Disciplina dos Sacramentos, no Directório
sobre piedade popular e liturgia. Princípios e orientações (17 de Dezembro de
2001), 201 (Cidade do Vaticano 2002), p. 165.
(38)
« ...concede, quæsumus, ut hæc mysteria sacratissimo beatæ Mariæ Virginis
Rosario recolenTs, et imitemur quod continent, et quod promittunt assequamur »:
Missale Romanum (1960) in festo B. M. Virginis a Rosario.
(39)
Cf. n. 34: AAS 93 (2001), 290.
Fonte: vatican.va