Parábola da semente

"Saiu o semeador a semear..." (Mc 4,3)



quarta-feira, 30 de maio de 2012

Junho: mês dedicado ao Coração de Jesus


Espiritualidade do  Coração de Jesus

“tirareis água com alegria das fontes da salvação” (Isaías 12,3)

Textos da Carta do Papa Bento XVI sobre o culto ao Coração de Jesus dirigida ao Padre Peter-Hans Kolvenbach, Prepósito Geral da Companhia de Jesus no qüinquagésimo aniversário da Encíclica “Haurietis aquas” (Beberão águas) com a qual o pontífice promovia o culto ao Coração de Jesus. Vaticano, 15 de maio de 2006.

Ao promover o culto ao Coração de Jesus, a encíclica “Haurietis aquas” exortava aos crentes a abrir-se ao mistério de Deus e de seu amor, deixando-se transformar por ele. Cinqüenta anos depois, continua em pé a tarefa sempre atual dos cristãos de aprofundar  sua relação com o Coração de Jesus para reavivar em si mesmos a fé no amor de Deus, acolhendo-o cada vez melhor em sua própria vida.
Poderemos compreender melhor o que significa "conhecer” em Jesus Cristo o amor de Deus, experimentá-lo, mantendo o olhar nEle, até viver completamente da experiência de seu amor, para poder testemunhá-lo depois aos outros. De fato, diz Bento XVI, retomando uma expressão de meu  predecessor, João Paulo II, “junto ao Coração de Cristo, o coração humano aprende a conhecer o autêntico e único sentido da vida e de seu próprio destino, a compreender o valor de uma vida autenticamente cristã, a permanecer afastado de certas perversões do coração, a unir o amor filial a Deus ao amor ao próximo. Deste modo – e esta é a verdadeira reparação exigida pelo Coração do Salvador – sobre as ruínas acumuladas pelo ódio e a violência poderá edificar-se a civilização do Coração de Cristo” (“Insegnamenti”, vol. IX/2, 1986, p. 843).

Conhecer o amor de Deus em Jesus Cristo
 Na encíclica “Deus caritas est”, diz Bento XVI,  citei a afirmação da primeira carta de são João: “Nós conhecemos o amor que Deus nos tem e cremos nele” para sublinhar que na origem da vida cristã está o encontro com uma Pessoa (cf. n. 1). Dado que Deus se manifestou da maneira mais profunda através da encarnação de seu Filho, fazendo-se “visível” nEle; na relação com Cristo, podemos reconhecer quem é verdadeiramente Deus (cf. encíclica “Haurietis aquas”, 29,41; encíclica “Deus caritas est”, 12-15). Mais ainda, dado que o amor de Deus encontrou sua expressão mais profunda na entrega que Cristo fez de sua vida por nós na Cruz, ao contemplar seu sofrimento e morte podemos reconhecer de maneira cada vez mais clara o amor sem limites de Deus por nós: “tanto amou Deus ao mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que crer nele não pereça, mas que tenha vida eterna” (João 3, 16).
 Por outro lado, esse mistério do amor de Deus por nós não constitui só o conteúdo do culto e da devoção ao Coração de Jesus: é, ao mesmo tempo, o conteúdo de toda verdadeira espiritualidade e devoção cristã. Portanto, é importante sublinhar que o fundamento dessa devoção é tão antigo como o próprio cristianismo. De fato, só se pode ser cristão dirigindo o olhar à Cruz de nosso Redentor, “a quem transpassaram” (João 19, 37; cf. Zacarias 12, 10). A encíclica “Haurietis aquas” lembra que a ferida do lado e as dos pregos foram para numeráveis almas os sinais de um amor que transformou cada vez mais incisivamente sua vida (cf. número 52). Reconhecer o amor de Deus no Crucificado se converteu para elas em uma experiência interior que as levou a confessar, junto a Tomé: “Meu Senhor e meu Deus!” (João 20, 28), permitindo-lhes alcançar uma fé mais profunda na acolhida sem reservas do amor de Deus (cf. encíclica “Haurietis aquas”, 49).

Experimentar o amor de Deus dirigindo o olhar ao Coração de Jesus Cristo O significado mais profundo desse culto ao amor de Deus só se manifesta quando se considera mais atentamente sua contribuição não só ao conhecimento, mas também, e sobretudo, à experiência pessoal desse amor na entrega confiada a seu serviço (cf. encíclica “Haurietis aquas”, 62). Obviamente, experiência e conhecimento não podem separar-se: um faz referência ao outro.
Também é necessário sublinhar que um autêntico conhecimento do amor de Deus só é possível no contexto de uma atitude de oração humilde e de disponibilidade generosa. Partindo dessa atitude interior, o olhar posto no lado transpassado da lança se transforma em silenciosa adoração. O olhar no lado transpassado do Senhor, do qual saem “sangue e água” (cf. Gv 19, 34), nos ajuda a reconhecer a multidão de dons de graça que daí procedem (cf. encíclica “Haurietis aquas”, 34-41) e nos abre a todas as demais formas de devoção cristã que estão compreendidas no culto ao Coração de Jesus.
 A fé, compreendida como fruto do amor de Deus experimentado, é uma graça, um dom de Deus. Mas o homem poderá experimentar a fé como uma graça só na medida em que ele a aceita dentro de si como um dom, e procura vivê-lo. O culto do amor de Deus, para o qual convidava os fiéis a encíclica “Haurietis aquas” (cf. ibidem, 72), deve nos ajudar a recordar incessantemente que Ele carregou com este sofrimento voluntariamente “por nós”, “por mim”.
Quando praticamos este culto, não só reconhecemos com gratidão o amor de Deus, mas continuamos nos abrindo a esse amor, de maneira que a nossa vida vai ficando cada vez mais modelada por ele.
Deus, que derramou seu amor “em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (cf. Romanos 5, 5), nos convida incansavelmente a acolher seu amor. O convite a entregar-se totalmente ao amor salvífico de Cristo (cf. ibidem, n. 4) tem como primeiro objetivo a relação com Deus. Por esse motivo, esse culto totalmente orientado ao amor de Deus que se sacrifica por nós tem uma importância insubstituível para nossa fé e para nossa vida no amor.

Viver e testemunhar o amor experimentado

Quem aceita o amor de Deus interiormente fica plasmado por ele. O amor de Deus experimentado é vivido pelo homem como um “chamado” ao que tem que responder.
O olhar dirigido ao Senhor, que “tomou nossas fraquezas e carregou nossas enfermidades” (Mateus 8, 17), nos ajuda a prestar mais atenção no sofrimento e na necessidade dos demais. A contemplação, na adoração, do lado transpassado da lança nos sensibiliza frente à vontade salvífica de Deus. Torna-nos capazes de confiar em seu amor salvífico e misericordioso e, ao mesmo tempo, nos reforça no desejo de participar em sua obra de salvação, convertendo-nos em seus instrumentos.
Os dons recebidos do lado aberto, do qual saíram “sangue e água” (cf. João 19, 34), fazem que nossa vida se converta também para os outros em manancial do qual emanam “rios de água viva” (João 7, 34 – cf. encíclica “Deus caritas est”, 7). A experiência do amor surgida do culto do lado transpassado do Redentor nos tutela ante o risco de nos prendermos em nós mesmos e nos faz mais disponíveis para uma vida para os outros. “Nisto conhecemos o que é o amor: em que ele deu sua vida por nós. Também nós devemos dar a vida pelos irmãos” (I João 3, 16 – cf. encíclica “Haurietis aquas”, 38).
A resposta ao mandamento do amor se faz possível só com a experiência de que este amor já nos foi dado antes por Deus (cf. encíclica “Deus caritas est”, 14).
O culto do amor que se faz visível no mistério da Cruz, representado em toda celebração eucarística, constitui, portanto, o fundamento para que possamos converter-nos em instrumentos nas mãos de Cristo: só assim podemos ser arautos críveis de seu amor.
Esta abertura à vontade de Deus, contudo, deve renovar-se em todo momento: “O amor nunca se dá por “concluído” e completado” (cf. encíclica “Deus caritas est”, 17). A contemplação do “lado transpassado pela lança”, na qual resplandece a vontade infinita de salvação por parte de Deus, não pode ser considerada portanto como uma forma passageira de culto ou de devoção: a adoração do amor de Deus, que encontrou no símbolo do “coração transpassado” sua expressão histórico-devocional, continua sendo imprescindível para uma relação viva com Deus (cf. encíclica “Haurietis aquas”, 62).

O Coração de Jesus é uma escola de amor
“O lado aberto de Jesus é uma escola de amor. Contemplando-o somos irresistivelmente conquistados pelo amor” e, assim, nos unimos a Cristo para viver com Ele a experiência da oblação e da reparação: eis o nosso carisma dehoniano, o nosso jeito de ser do Coração de Jesus.
Contemplar o Coração de Jesus é contemplar sua própria pessoa; é no fundo contemplar o amor de Deus que se revela em Cristo, porque Deus é amor (1Jo 4,8). Um amor que se manifesta na doação da própria vida para fazer a vontade do Pai. Um amor que se faz eucaristia. Contemplar o Coração de Jesus é adorar a Cristo eucarístico. Por isso, somos convidados a esta vida de interioridade, de intimidade ao Coração de Jesus na eucaristia, valorizando a Santa Missa e a adoração eucarística tendo-os como ponto fundante de nossa espiritualidade.
Este amor à eucaristia e, portanto, ao Coração de Jesus, nos faz oferenda ao Pai. Nos unimos a oferta perfeita de Cristo, para sermos também nós oferenda agradável. Ofertamos com Cristo nossa vida no espírito do “Eis que venho ó Pai para fazer a tua vontade” (Hb 10,7), abandonando-nos totalmente à vontade de Deus. Queremos ser um outro Cristo para o mundo revelando o Amor em palavras e atitudes de testemunho.
Também aprendemos de Cristo a reparação. Cristo dá a vida por amor. Dá a vida para nos resgatar, nos libertar, nos amar. Um amor que se rasga na lança que transpassa o coração (Jo 19,34). É vítima de reparação, restituindo na terra a caridade, reconquistando o coração do homem com apropria vida, porque “quem ama dá a vida por seus amigos” (Jo 15,13). Vivemos a reparação, procurando infundir o a amor na sociedade, restaurando corações feridos, denunciando injustiças, pregando o amor.
Portanto, ser do coração de Jesus é reproduzir este divino coração de uma maneira especial e distinta, segundo as nossas possibilidades e como a graça nos inspira: um coração que ama, se imola e não deixa jamais de se doar.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Mensagem da CNBB aos trabalhadores e trabalhadoras


A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, no ensejo das comemorações do Dia Mundial do Trabalho, neste 1º de Maio, dirige sua mensagem de solidariedade e apoio a todos os trabalhadores e trabalhadoras do Brasil. A celebração desta data nos sugere, antes de tudo, um agradecimento a Deus pelo ser humano que, com criatividade e sabedoria, constrói o mundo e vive do trabalho de suas mãos.
O trabalho não é um mero apêndice na vida humana, mas uma dimensão fundamental de sua existência na terra. Por meio dele, o homem e a mulher “participam na obra do próprio Deus, seu Criador” e se realizam como seres humanos. O próprio Jesus viveu a realidade do trabalho a ponto de ser identificado como “o Filho do Carpinteiro” (Mt 13,55).
A busca do desenvolvimento a todo custo, no entanto, colocando o capital e o lucro acima da pessoa humana, tem transformado o trabalho em peso e castigo para milhares de trabalhadores e trabalhadoras no país. Isso contradiz a vocação humana ao trabalho e fere sua dignidade. Temos a missão resgatar a centralidade da pessoa humana para que o trabalho, “chave essencial de toda a questão social”, cumpra seu fim que é a realização do ser humano.
A Igreja, que “considera sua tarefa fazer com que sejam sempre tidos presentes a dignidade e os direitos dos homens do trabalho” (Laborem Exercens 1), se une, portanto, neste 1º de Maio, aos trabalhadores/as em suas justas reivindicações quais sejam a garantia de seus direitos e a defesa de sua dignidade.
Com eles denuncia as desigualdades sociais, que a distribuição de renda não consegue erradicar, o baixo salário, o desemprego e o subemprego, que condena inúmeras famílias a condições indignas de filhos e filhas de Deus. Repudia, igualmente, o trabalho escravo e infantil, chaga de nossa sociedade, bem como toda discriminação que possa existir no mundo do trabalho por idade, etnia, gênero.
Somos todos responsáveis pela construção da sociedade nova, justa e fraterna, sonhada por Deus para seus filhos e filhas. A garantia da justiça nas relações do trabalho é condição para atingirmos esse fim.
Que o carpinteiro São José, pai adotivo de Jesus, abençoe os trabalhadores e trabalhadoras do Brasil.
Brasília, 1º de Maio de 2012

Cardeal Raymundo Damasceno Assis - Arcebispo de Aparecida, Presidente da CNBB
Dom José Belisário da Silva - Arcebispo de São Luis do Maranhão, Vice-Presidente da CNBB
Dom Leonardo Ulrich Steiner - Bispo Auxiliar de Brasília, Secretário Geral da CNBB